O Setor de Fonoaudiologia (SFD) do Araújo Jorge – Hospital de Câncer realizou, na última terça-feira (29/07), uma reunião especial do Grupo de Laringectomizados (GLAN), no auditório do Centro Médico Ambulatorial (CMA). O encontro contou com a participação do cirurgião oncológico do Setor de Cabeça e Pescoço, Dr. João Elias de Godoi, e da psicóloga Tatiane Nicolau Mendes.
Na abertura, a supervisora do SFD, Juliana Monteiro, destacou a importância do grupo, especialmente pelo engajamento dos pacientes na formação e participação do coral. “Esse grupo foi criado em 2007 e se reúne mensalmente, mas neste mês estamos encerrando com a campanha do Julho Verde, que promove a conscientização sobre o câncer de cabeça e pescoço. Devemos sempre focar na prevenção. A história do Mário Victor, um paciente jovem que venceu o câncer, me impactou profundamente”, contou.
Para Juliana, uma coisa é ela falar para o paciente as possibilidades de reabilitação, e outra coisa é ele entender e ver isso. “Quando ele verifica, pode escolher o método com o qual ele mais se identifica. Temos pacientes com pouco tempo de cirurgia e está na fase de modificações, enquanto outros estão bem resolvidos. Então, toda essa explicação serve de estímulo”, completou.
História de vida
O filmmaker e paciente do Araújo Jorge, Mário Victor Medrado de Jesus, compartilhou sua história de vida com os presentes. “O tratamento não é fácil, e quando falo sobre minha trajetória, costumo começar do meio para depois pensar no futuro. Descobri o câncer aos 19 anos, em um momento em que eu já não estava bem emocionalmente. Lembro do instante em que recebi o diagnóstico de neoplasia maligna, mas, na época, ainda não compreendia bem o significado”, relatou.
Ao compartilhar o diagnóstico com a mãe, percebeu que se tratava de câncer e que precisaria focar no tratamento. “A parte da sonda foi a mais difícil, porque quando perdemos o acesso a algo que nos dá prazer, como se alimentar, sentimos muito medo. O maior aprendizado durante o processo foi entender a importância de cuidar do nosso emocional ao longo do tratamento”, explicou.
Mário Victor passou por um tratamento que durou 1 ano e 8 meses, incluindo quatro cirurgias e 33 sessões de radioterapia. Segundo ele, o processo pode ser mais simples ou mais difícil dependendo da forma como lidamos mentalmente com a situação.
“Tive uma depressão silenciosa, mas meu corpo já vinha dando sinais. Quando entrei no Araújo Jorge, percebi que vale a pena viver. A vida vai além da doença. É preciso cuidar da alimentação e da saúde mental. Eu poderia ter ficado sem voz, mas trago aqui a esperança de que a vida não deve parar devido à doença. Precisamos enxergar além do problema”, afirmou.
Ele contou ainda que mudou de profissão, cresceu profissionalmente e está preparando o lançamento do livro “Medo: governe ou morra”, no qual narra sua história para inspirar outras pessoas a continuarem acreditando no enorme potencial que todos carregam. Segundo Juliana, Mário Victor ressignificou todo o seu processo e saiu ainda mais forte do tratamento oncológico.
“Os pacientes são meus professores”
O cirurgião do Setor de Cabeça e Pescoço, Dr. João Elias de Godoi, afirmou que os pacientes eram seus professores. Segundo o médico, o foco deve estar na vida e no ser humano, e não somente na doença.
“O paciente é o personagem principal. Quando chega ao consultório, carrega muitos questionamentos, medos, angústias, negação, culpa e incertezas. Muitas vezes, essas incertezas também atingem o profissional, pois nem sempre temos todas as ferramentas ou respostas naquele momento”, explicou. O médico ainda destacou que, embora a vida mude de significado após o diagnóstico, nenhum paciente está sozinho.
“Não permita que a negatividade tome conta de você ao receber o diagnóstico de câncer. Para uma boa resposta ao tratamento, encontre seu propósito, aproveite os momentos felizes e priorize sempre a vida, não, a doença”, concluiu.
Atenção à saúde mental
A psicóloga Tatiane Nicolau Mendes participou da programação do evento, abordando a importância do cuidado com a saúde mental. “Ao receber o diagnóstico de câncer, o paciente sente medo, confusão e precisa desenvolver o autocuidado. Para manter a saúde mental, é essencial também cuidar da saúde física, pois ambas caminham juntas e na mesma direção”, afirmou.
Com o tema “Filtro Solar Emocional”, a psicóloga, que já atuou por 22 anos na instituição, revelou parte de sua vida, relatando o período em que trabalhava em cinco lugares simultaneamente, o que culminou em uma crise de pânico. “Nada acontece do nada, o corpo sempre dá sinais, só precisamos saber interpretá-los. Precisamos melhorar a nós mesmos para conseguirmos melhorar as situações ao nosso redor. É fundamental exercitar nossas emoções”, destacou.
Segundo Tatiane, é necessário se olhar no espelho todos os dias e observar com atenção o que dizemos a nós mesmos. “Sejam intencionais ao acordar. Resgatem essa intenção ao longo do dia e voltem para o caminho. As orações, sob a perspectiva psicológica, representam uma conexão positiva. É possível acreditar que hoje será melhor do que ontem”, afirmou.
Para ela, a prevenção é uma das principais formas de autocuidado e de evitar um colapso emocional. “Precisamos proteger o nosso interior e aprender a lidar com as emoções turbulentas. Esteja atento ao que está sentindo, pois o cérebro responde muito bem à prevenção”, concluiu.
Ao final, os participantes receberam kits de higiene bucal oferecidos pelo Serviço de Voluntariado da instituição e prestigiaram a apresentação do coral “Somos Iguais”, participando do momento.









