Cerca de sete mil mulheres morrem de câncer de colo de útero no Brasil todos os anos. Os dados são do Instituto Nacional de Câncer (Inca), que também prevê o registro de 16.590 mil novos casos da enfermidade ao longo de 2022 – quase 600 quando o recorte é Goiás. Os números estão no centro do debate sobre a baixa adesão à vacina contra HPV, o que segue como maior entrave para controle da doença e uma uma das maiores preocupações do Setor de Ginecologia e Mama (SGM) do Hospital de Câncer Araújo Jorge (HAJ).
Isto porque já existem pesquisas que apontam que a vacinação, disponível para meninas, com idade a partir dos 9 anos, e meninos, a partir dos 11 anos, pode ser capaz de erradicar o câncer de colo do útero. “Na medicina não existe o ‘sempre’ e o ‘nunca’, mas a vacina contra HPV é a única forma de chegarmos perto da erradicação desse tipo de câncer”, explica a ginecologista oncológica Nayara Portilho, uma das médicas que integram o SGM.
Informação que vale ouro
Pelo setor passaram, só em 2021, mais de 27 mil mulheres – a maioria para tratar tumores na mama, o que coloca em pauta um outro grande desafio: as goianas, assim como as brasileiras no geral, não vão ao ginecologista com frequência, visita que poderia facilitar um futuro tratamento oncológico e aumentar consideravelmente os índices de cura diante da descoberta precoce de um câncer.
Em 2019, um levantamento da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) chegou a apontar que, até aquele momento, 4 milhões de mulheres nunca haviam procurado atendimento com esse profissional e outras 16,2 milhões não passavam por consulta há mais de um ano.
Segundo Nayara Portilho, essa displicência pode ser vista no dia a dia do consultório, na falta de informação sobre estratégia de saúde pública, como é o caso da vacinação contra HPV. “A paciente entra no consultório e fica até surpresa quando falamos da vacina. Muitas vezes elas nunca ouviram falar disso. Nesse momento a gente explica mais sobre o imunizante e incentiva que ela também vacine os filhos, se eles estiverem na fase indicada”, conta.
Ela lembra que o câncer de colo de útero segue como a quarta causa de morte por doenças oncológicas entre mulheres e que o programa de vacinação contra HPV, hoje disponível Sistema Único de Saúde (SUS), começou por aqui em 2014 para meninas de 11 a 13 anos. No ano seguinte, a faixa etária baixou para 9 anos e, depois, os garotos também entraram na chamada.