Até 2022 mais de 15 mil novos casos de câncer de boca devem ser registrados no Brasil. Deste universo, estima-se que 460 sejam diagnosticados em Goiás. Os dados, que apontam um aumento em relação a 2018, são do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e chamam atenção pelo fato da doença estar diretamente relacionada ao tabagismo, hábito que vem perdendo força nos últimos 13 anos mas que agora, segundo o Covitel, está voltando de cara nova.
É que de acordo com o Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia, 1 em cada 5 jovens, com idade entre 18 e 24 anos, utilizam cigarro eletrônico no país – percentual que se destaca na região Centro-Oeste.
Não por acaso, no início de maio a Associação Médica Brasileira (AMB) e outras 45 entidades médica assinam um documento para manter proibição do dispositivo – regra que vale desde 2009, baseada no fato de que, diferentemente do cigarro convencional, que demora de 20 a 30 anos para manifestar doença no usuário, o cigarro eletrônico é mais agressivo.
Outros fatores de risco
Tendo em vista o Dia de Combate ao Câncer Bucal e o Dia Nacional de Combate ao Fumo, ambos celebrados nesta terça-feira (31), o oncologista do Hospital de Câncer Araújo Jorge (HAJ), José Carlos de Oliveira, faz questão de listar outros fatores que contribuem para o aparecimento da doença como o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e a falta de cuidado com a saúde da boca de forma geral.
Outro fator que precisa ser levado em conta é a relação entre o câncer de orofaringe e o aumento de casos do vírus HPV – comum em pacientes que lutam contra cânceres na amígdala e língua. Este último, encabeça a lista de diagnósticos no Setor de Cabeça e Pescoço (SPC) do HAJ. “Se precisássemos traçar um perfil dos nossos pacientes poderíamos dizer que eles são homens, pouco informados sobre a doença e com um histórico ruim de cuidados com a saúde bucal”, explica Oliveira.
À frente do SPC, o oncologista explica que se diagnosticado precocemente o paciente que luta contra o câncer de boca tem 90% de chances de ser curado – percentual que caí para 40 quando a doença é descoberta tardiamente. “Uma parcela significativa já chega ao hospital com lesões avançadas, o que diminui muito as chances de sucesso no tratamento. Muito disso ocorre por falta de informação, de campanhas de conscientização e, é claro, pela demora no encaminhamento deste paciente para o serviço especializado, o que é feito pelas Secretaria Municipais de Saúde.”
Prevenir para não remediar
Tipo mais frequente no SCP do Araújo Jorge, o câncer de boca representa cerca de 40% dos atendimentos realizados no departamento, dividindo espaço com os cânceres de laringe e tireóide. Segundo Oliveira os principais sintomas da doença são: feridas e dores persistentes na boca, aparecimento de nódulo ou espessamento na bochecha, irritação na garganta e dificuldade para mastigar, engolir e mover a mandíbula ou a língua.
“Mau hálito persistente, gânglios no pescoço e inchaço da mandíbula também devem ser observados com atenção”, explica o especialista, destacando que é possível prevenir e fazer o diagnóstico precoce de câncer bucal na cadeira do cirurgião-dentista. No HAJ, depois do diagnóstico, o paciente passa a ser acompanhado por uma equipe multidisciplinar, o que inclui dentistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos.