O Grupo de Apoio ao Paciente Oncológico (GAPPO) do Araújo Jorge – Hospital de Câncer promoveu, na noite de quinta-feira (30/10), um ciclo de palestras com o tema “Rede de cuidado: construindo suporte humanizado em situações de doenças ameaçadoras da vida”, realizado no auditório do Centro Médico Ambulatorial (CMA).
A supervisora e fisioterapeuta do GAPPO, Arethuzza Alves Moreira, explicou que o evento celebrou o Dia Mundial de Cuidados Paliativos, comemorado no segundo sábado de outubro.
“Organizamos o ciclo de palestras com o objetivo de integrar conhecimentos e experiências com as redes básicas de saúde. Neste ano, o tema da equipe de aliança em cuidados paliativos aborda o acesso universal, para que todos possam conhecer mais sobre o tema”, afirmou.
Segundo Arethuzza, muitos pacientes em acompanhamento domiciliar buscam assistência sem ter informações adequadas sobre cuidados paliativos. “Ao compartilharmos conhecimento e orientações sobre essa assistência, muitas vezes evitamos a necessidade de internações ou visitas à emergência”, explicou.
De acordo com dados do GAPPO — que realiza um trabalho multidisciplinar em diversas regiões e até em outros estados, também por telefone —, somente em Goiânia são realizados mais de 400 atendimentos mensais.
Para a supervisora, promover essa integração fortalece o vínculo entre profissionais, pacientes e familiares. “Existem ainda muitos tabus e mitos sobre o tema. Reforçamos que os cuidados paliativos beneficiam diretamente os pacientes, proporcionando qualidade de vida e alívio de sintomas, mesmo em casos de doenças avançadas ou fora de possibilidades de cura”, concluiu.
Cuidados paliativos em populações vulneráveis
No início do evento, a supervisora Arethuzza Alves Moreira apresentou ao público informações sobre o Araújo Jorge e o trabalho desenvolvido pelo GAPPO na unidade.
A primeira palestra da noite foi ministrada pela médica Mayra Gabriela Galvão, coordenadora da Ala de Cuidados Paliativos da Santa Casa de Misericórdia de Goiânia, que instigou os participantes a refletirem sobre as diferentes formas de oferecer cuidados paliativos em populações vulneráveis e acolhimento aos pacientes.
“Os cuidados paliativos são fáceis de serem aplicados?”, provocou a médica. Mayra destacou que ainda há diversos desafios na prática dos cuidados paliativos. “Enfrentamos dificuldades em lidar com familiares diante da terminalidade, da dor e do alívio do sofrimento. No entanto, com uma abordagem profissional e o vínculo criado entre paciente e equipe, o trabalho desenvolvido gera resultados significativos e humaniza o atendimento”, afirmou.
Durante a palestra, a médica ainda destacou a prática de cuidados paliativos em populações vulneráveis, às condições desfavoráveis em que vivem, hospitais que não possuem uma equipe altamente capacitada para o trabalho, a Política Nacional de Cuidados Paliativos e apresentou casos clínicos. “Você não irá paliar todo mundo. Mas é possível fazer a diferença”, concluiu.
Fisiologia da morte por uma perspectiva multiprofissional
O médico paliativista do GAPPO, Victor Hugo Veiga Jardim, conduziu a palestra “Fisiologia da Morte: uma perspectiva multiprofissional”, evidenciando sobre o processo de morrer em cuidados paliativos. “Sempre questiono se existe o medo da morte ou do que vai ficar. É preciso compreender a fisiologia do óbito. A morte é um processo biológico e clínico irreversível que marca o fim das funções vitais do organismo”, citou.
Para o médico, compreender a fisiologia da morte é essencial para o manejo adequado, a comunicação efetiva e suporte integral ao paciente e familiares durante este período crítico. “A morte não é um evento único, mas um processo gradual de falência de múltiplos sistemas orgânicos que exige colaboração interdisciplinar e cuidado humanizado”, disse.
O especialista ainda explicou sobre a pré-morte, agonia e morte clínica, a lucidez terminal, o sistema cardiovascular na morte, sistema neurológico e o foco no conforto e na dignidade. “O foco principal deve estar sempre no conforto, dignidade e qualidade de vida do paciente, priorizando o bem-estar sobre medidas de prolongamento artificial da vida”, ressaltou.
Nutrição em cuidados paliativos
Ao finalizar o ciclo, a nutricionista oncológica Ana Karoline Martins, também do GAPPO, ressaltou os benefícios do paciente em acompanhamento nutricional na fase dos cuidados paliativos. “Devemos evitar o isolamento desse paciente, otimizando as preferências alimentares. Existe o papel da equipe da atenção básica em acolher as demandas nutricionais e a comunicação compassiva com o paciente e família”, relatou.
De acordo com a nutricionista, existem fases e objetivos do cuidado nutricional no paciente em cuidados paliativos, como as fases inicial, intermediária e avançada. “A nutrição artificial deve ser um conforto, não um meio de prolongar o sofrimento. Existem vias alternativas de alimentação, como a enteral e a parenteral, e sempre avaliar antes de qualquer decisão”, destacou.
Ana Karoline ainda explicou sobre as contraindicações de via alternativa de alimentação, casos clínicos, a importância da comunicação e honrar o tempo do paciente com dignidade e conforto. A secretária de Saúde em Goianira, Aldenívia Marques Sabino, estava presente no evento e contou sobre a relevância do tema. “O evento veio para mostrar o manejo e o cuidado adequados com os pacientes. Esperamos que nosso município cresça cada dia mais. Enquanto secretaria, realizamos visitas aos pacientes e entendemos a importância de saber acolher e cuidar. Viemos em busca de conhecimento para Goianira, pois atualmente contamos com apenas uma equipe que atende 60 pacientes”, relatou.
A coordenadora de Atenção Domiciliar e Cuidados Paliativos da Secretaria Estadual de Saúde (SES), Sebastiana Maria de Paula Nunes, também participou com o objetivo de adquirir mais conhecimento e observar a estrutura do atendimento realizado pelo GAPPO. “Viemos com muita expectativa, pois um dos nossos desafios é formar uma equipe completa e oferecer o cuidado que os pacientes merecem. Queremos que eles se beneficiem das capacitações e da assistência de qualidade que a população precisa e merece”, afirmou.
O evento foi encerrado com um momento de interação, no qual os participantes puderam fazer perguntas e concorrer a brindes.
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